segunda-feira, 27 de julho de 2009

O apaixonado

Ele não entendia como acontecia. Poderia um ato, um pensamento, uma possibilidade de ato ou pensamento acabar com um sentimento? Um sentimento forte! Arrebatador!, e... inexistente... Em apenas um momento pode acabar todo um sentimento? Ele não acabou; metamorfoseou-se! O que era antes, ele não sabia. Poderia ser uma paixão, um amor... Certamente seria, se ele assim permitisse. Mas não o fez. Com razão? Tornou-se agora impossível saber. Transformou-se em um vazio no estômago e um aperto frio e dolorido no peito. Às vezes o que sentia era... nada.
Queria entender como isso aconteceu, queria saber como podia dominar assim seus sentimentos, queria poder fazê-lo quando bem entendesse, mas não podia. Porque bem sabia que esse domínio não existia. Não para ele. Ele não dominava seus sentimentos, não podia dominá-los. Acabou com um sentimento, extinguiu-o de um dia para o outro? Jamais! Sabia que só havia se protegido, protegeu-se contra o sofrimento e sabia também que nada havia feito, ele nunca controlou um décimo do que idealizava controlar, o controle esteve com os sentimentos desde o início, um apenas sobrepôs-se a outro.
Ficou feliz em perceber isso, pois percebendo, sentiu-se, uma vez mais, vivo! Sabia-se amando. Sabia ser impotente contra esse sentimento. Foi escolha sua: ele quis sentir! E sabia que, querendo, sentiria. Pois aquela não era uma pessoa qualquer. Não sabia como funcionava para as outras pessoas, mas para ele... para ele, ela era tudo o que se poderia esperar. Sabia não ser real, sabia que era cegado pelos sentimentos, sabia que era uma menina como outras, mas sabia não poder lutar contra isso.
Perguntava-se se era o único a perguntar-se...

domingo, 26 de julho de 2009

Persona


Estava pronto para ir à mais uma festa; mais uma festa à fantasia. Pegou sua máscara, aquela que lhe caia tão bem, vestiu-a e saiu. Na verdade nem ao menos precisou vesti-la – já a levava consigo.
Ao chegar observou todas aquelas pessoas, cada qual com sua máscara – aquelas que lhes eram próprias. Algumas felizes, outras tristes – mesmo em uma festa – caras amarradas, animadas ou esperançosas. Festas como essas pareciam verdadeiros carnavais.
Ele? Ele era sempre o simpático, o carismático, o engraçado, etc... Isso, com efeito, era o que dizia sua máscara. E as máscaras dos outros diziam tantas outras coisas. Mas como seriam essas pessoas sem seus disfarces? Isso era algo que lhe intrigava. Vivia, porém, a maior parte do tempo sem preocupar-se com isso.
Bebia, ria e conversava com todos mesmo sem conhecê-los, mesmo sem saber o que estava oculto sob suas camuflagens. De fato, na maior parte do tempo ninguém se preocupava com isso.
O que lhe intrigava verdadeiramente, entretanto, eram duas possibilidades: a hipocrisia extrema ou a total massificação? Será que essas pessoas, por usarem tanto suas máscaras, por tanto mentirem quem eram, acabaram por acreditar na própria máscara? Ou será que nem ao menos uma vez deram-se conta de que a usavam, que acreditam ser realmente natural seguir as tendências, as mídias, a moda e tudo o mais que lhes é imposto, que acham natural a supressão de sua subjetividade?
Poderiam elas ter consciência de suas máscaras e estarem buscando seu verdadeiro ser?

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Impulsos


Estava decidido, iria pegar o primeiro trem que passasse desde que não fosse o seu, queria ir para qualquer lugar menos ao trabalho. Estava resolvido que hoje seria diferente, seguiria os seus impulsos!

Droga! Tudo isso havia sido racionalizado, seus impulsos o diziam para ir trabalhar...